sábado, 27 de dezembro de 2014

II CARTA ABERTA AO GOVERNO REGIONAL DOS AÇORES, AOS MEMBROS DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REGIONAL DA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES E A

Caros açorianos e açorianas em primeiro lugar quero agradecer profundamente o despertar das vossas consciências no combate às omissões, lacunas e desigualdades não só no domínio da dos cuidados de saúde, como também nos mais diversos sectores que condicionam a vida do nosso povo.

Esta é uma batalha que me faz lutar pela vida: o despertar da consciência social para o nosso papel interventivo em situações que carecem de mudança e a tentativa de rescisão com uma sociedade de conivência social, de troca de favores e de silêncios muitas vezes apaticamente permitidos. O despertar da consciência social e o sentir as vozes a erguerem-se e insurgirem-se é, quem sabe, o grande motor que me dá vida e a grande missão pela qual irei incessantemente batalhar.

Assim, agradeço a cada um de vós a força e a motivação que me transmitem para que continue a fazer da minha voz a voz de muitos e muitos açorianos e açorianas.

Aos responsáveis dos desígnios deste paraíso chamado “Açores” agradeço terem auscultado um apelo de uma humilde cidadã. E a todos os políticos desta região agradeço os pensamentos e ações que resultaram da leitura da Carta “O cancro dos açorianos”.

Ao continuar a minha batalha pela vida e pelo futuro dos meus e dos nossos filhos hoje, e com o alento dado pelos gestos de altruísmo e generosidade, venho continuar a utilizar o exemplo da minha própria batalha para que todos e todas possam refletir sobre problemáticas sérias que influem diretamente na vida de todos nós.

Sendo assim, passarei aqui a questionar os mais altos responsáveis desta região sobre uma panóplia de problemáticas sobre as quais cada um de nós deverá refletir.

Vamos dar sentido às nossas vidas lutando pela justiça, pela equidade social e vamos, juntos, ser o instrumento de tantas mudanças que são urgentes nos e pelos Açores:

1-     No próximo mês de janeiro não ficarei só, sem condições para cuidar nem de mim nem dos meus, apenas porque existem nesta região pessoas verdadeiramente generosas que vieram ao meu auxílio sem nada esperar em troca. Não seria da responsabilidade das estâncias governativas desta região proceder a uma mudança legislativa que atendesse ao acompanhamento familiar no caso de doença prolongada sem a perca total do vencimento? É a vossa omissão que transforma o flagelo da doença num pesadelo muito mais sofrido e doloroso!

2-     Lamento não ter tido condições físicas suficientes para reunir-me com o Senhor Secretário Regional da Saúde, que predispôs-se a auscultar uma voz que representa muitas outras.No entanto, congratulo o senhor secretário por não ter estado em minha presença, pois um ser humano quando sujeito a quimioterapia tende a ficar imunodeprimido e até pode ser veículo de transmissão de vírus indesejáveis. Assim, no diálogo que pudesse ser estabelecido teria de lhe dizer:

2.1-  Lamento a irresponsabilidade do Governo Regional dos Açores, numa região em que se investem em infraestruturas megalómanas (algumas delas com custos de manutenção que ascendem os 400.000 euros por ano), em não cumprir a legislação em vigor, procedendo à troca dos filtros das condutas do ar condicionado do HDES de Ponta Delgada, tal qual como obrigada o normativo em vigor. Apesar das diligências do HDES estes filtros apenas são retirados de seis em seis meses. Sabem os nossos governantes os riscos que este incumprimento acarreta para os utentes e para os profissionais de saúde?Eu gostava de ver divulgados os dados de quantas pessoas contraem infeções hospitalares no HDES de PDL! E, se um dia esta doença não me retirar a vida, e se uma infeção hospitalar me ceifar o último sopro de vida, deixo-vos apenas uma questão: qual foi o preço das vossas consciências?

3-     Mais uma oportuna questão: Sabem os açorianos e açorianas que os protocolos com os centros de investigação genética internacionais estão em “stand by” na nossa região por falta de verbas e que, por isso, filhas de pacientes oncológicas com cancro de mama estão sem acesso a fazerem o despiste necessário através dos marcadores BRCA 1 e BRCA2 que poderiam salvar tantas vidas, numa região em que o número de casos de cancro continua a crescer?

4-     Conhecem os açorianos e açorianas os esforços do Governo Regional dos Açores em estabelecer protocolos com clínicas oncológicas internacionais para que não se perpetue a desigualdade na doença, em que o cancro dos pobres nem pode sequer sonhar em procurar vida com novas técnicas, terapias e tratamentos.Sabem, como boa espécime de cancro dos remediados, digo-vos que um dia também gostava de poder sonhar em ir procurar cura em Boston ou na Alemanha… mas até na doença o dinheiro é que move o mundo e abala os sonhos!

5-     Passei anos e anos da minha vida a auxiliar o próximo no combate à fome e à miséria causadas pelo desemprego e pela existência de ciclos de exclusão social. Não estará a omissão do papel social do estado a ultrapassar os limites do aceitável também na nossa região?

6-     Por experiência própria sei que ser cuidadora informal de um idoso acamado esgota todas as economias do lar. Não me arrependo de ter dado tudo por tudo a quem sempre amei e a quem me embalou nos braços. Mas não vos perdoo terem votado ao esquecimento a rede de apoio ao cuidador informal do idoso, anunciada por Piedade Lalanda, deixando novamente a franja mais desprotegida da população e as suas famílias cada vez mais condenadas à pobreza e ao esquecimento.

7-     Sabem os açorianos e açorianas qual o desenrolar da tão apregoada rede de cuidados paliativos que continua a ser uma ténue miragem nesta região?

Poderia prosseguir com uma lista imensurável de tantas e profundas questões…. Mas por hoje deixo-vos estes pontos de reflexão para que 2015 seja um ano de reflexões e mudanças!Por fim, prometo a todos vós que enquanto me sobrar uma réstia de força esta minha voz não se irá silenciar e tentará despertar em vós consciências, retirando as amarras do silêncio, defendendo não só a minha vida, mas a vida de todos nós… porque todos somos seres humanos, sujeitos a que uma desventura ou doença “nos bata à porta” e todos nós temos o dever e a obrigação moral e ética de defender a vida e o bem-estar da pessoa humana.

Com anuência da própria, esta carta pode ser divulgada e partilhada em quaisquer órgãos de comunicação social ou páginas pessoais.

Paula Margarida Tavares
Fajã de Baixo, 27 de Dezembro de 2014.

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