Homenagem
ao Pe. Manuel António Pimentel reúne sacerdotes e amigos nas Furnas, 10 anos
depois da sua morte
Capacidade
para “escutar”, “paixão” por Jesus ou “homem de grandes interrogações e poucas
certezas”, foram algumas das características apontadas ao Pe. Manuel António
Pimentel, que esta quinta-feira foi homenageado nas Furnas, na ilha de São
Miguel, por amigos, familiares e alguns colegas pela passagem do 10º
aniversário da sua morte.
“Foi
de entre os alunos do Seminário, no meu curso, o que mais se destacou pela
profundidade, inteligência e conhecimento cientifico”, lembra o Pe. Frenando
Teixeira, ordenado no mesmo dia em que foi ordenado o sacerdote natural das
Furnas, 3 de junho de 1962.
“Lembro-me
do dia em que saímos de São Miguel, ele três anos mais novo que eu, muito
aprumado com uns óculos redondos de massa, que o faziam bem mais velho, a
perguntar-me: o senhor também vai para o Seminário?…Foi o começo de uma grande
e profunda amizade”, recorda o sacerdote, um dos oito padres que estiveram
presentes nesta homenagem na Igreja De Sant´Ana, nas Furnas, onde o Pe. Manuel
António Pimentel celebrou a missa nova.
“Um
santo” disse o ouvidor eclesiástico da Povoação, Pe. Octávio Medeiros. “Eu não
rezo pelo Manuel porque ele é que é o meu intermediário junto de Jesus e de
Maria”, acrescentou o Pe. Fernando Teixeira.
A
homenagem desta quinta-feira foi a terceira prestada ao sacerdote que há dez
anos faleceu vítima de cancro, depois de Setúbal e Porto, duas dioceses onde
serviu e deixou muitos amigos, respetivamente.
Na
hora da “despedida”, já no Instituto Português de Oncologia, em Lisboa, ”e numa
faceta pouco conhecida”, escreveu o poema “Ainda ao amanhecer” lido no final da
homenagem pelo Pe. Cipriano Pacheco, Vigário Episcopal para São Miguel, “um
amigo de sempre” que juntamente com o Pe. Cassiano, ouvidor de Vila Franca do
Campo, foi testamenteiro do Pe. Manuel António Pimentel.
“A
estola verde com que hoje simbolicamente celebrei na eucaristia foi um legado
dele em testamento. Apesar de não ser a cor do dia pareceu-me muito adequado
usá-la hoje” sublinhou o Pe. Cassiano, um dos sacerdotes diocesanos que mais
privou com o homenageado, “não só porque ambos éramos das Furnas mas porque o
irmão dele casou com uma tia minha e tínhamos uma relação de parentesco que fez
com que nos cruzássemos em várias etapas e momentos da vida”.
Ambos
estiveram juntos em movimentos e atividades pastorais, sempre com numa
intervenção direta no terreno, em prol dos mais desfavorecidos.
A
homenagem contou com a presença de inúmeros amigos fora do clero que lembraram
o seu papel na igreja, como “homem de Deus”, com “poucas certezas”, mas “muito
dialogante” e “profundamente espiritual”, com “uma enorme capacidade de
diálogo” e “uma grande determinação em ver cristo em cada sofredor”.
Angelina
Balacó, professora, lembrou uma das interrogações mais frequentes do Pe. Manuel
António Pimentel:” perante o sofrimento e dor que não conseguimos explicar, o
que é que Deus nos quer dizer com isto?”.
“As
suas interrogações eram muito inspiradoras”, rematou a ex-colaboradora do
sacerdote nos movimentos sociais da igreja, em São Miguel.
Também
Manuela Medeiros, amiga de infância, lembrou o seu trabalho na ajuda ao próximo
e a autoria dos 10 mandamentos dos voluntários que servem de guião à Liga dos
Amigos do Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada.
A
homenagem começou com uma Eucaristia presidida pelo Pe. Cipriano Pacheco que
sublinhou este questionamento permanente do amigo: “Ele tinha uma paixão para
conhecer Jesus e nunca tinha certezas porque achava que o conhecimento de Jesus
era um processo que se fazia ao longo da vida. Foi o maior legado que nos
deixou”.
Para
o atual responsável pelos Padres do Prado em Portugal, sucessor do Pe. Manuel
António Pimentel, este “desafio” deve inspirar a “igreja de hoje porque há
muitos cristãos que tomam Jesus Cristo como uma coisa feita”.
Na
homenagem estiveram apenas oito sacerdotes da ilha de São Miguel, os Padres
Octávio Medeiros, João Ponte, Ricardo Pimentel e Silvino Amaral, da Ouvidoria
da Povoação; Fernando Teixeira, da Ouvidoria de Ponta Delgada; Miguel Tavares,
da Ouvidoria das Capelas e António Cassiano da Ouvidoria de Vila Fraca do Campo
e o Vigário Episcopal de São Miguel, Pe. Cipriano Pacheco.
O
Pe. Manuel António Pimentel nasceu na freguesia das Furnas, em 1939 e foi para
o Seminário com 11 anos de idade. Depois da sua ordenação, a 3 de Junho de
1962, foi para Roma onde estudou Direito Canónico e Teologia Moral, tendo
acompanhado de perto a realização do Concílio Vaticano II, entre 1962 e 1965.
Regressa
depois à ilha Terceira para ser professor do Seminário Maior de Angra durante
dois anos. Passado esse tempo, assume o lugar de Diretor Espiritual no então
Seminário Menor de Ponta Delgada durante três anos, regressando de novo ao
Seminário Maior de Angra do Heroísmo como professor até 1975, altura em que vai
para França, onde frequenta o Curso de Formação dos Padres do Prado.
Durante
esse período da sua vida, o episcopado português encarrega-o, juntamente com
outros sacerdotes, de trabalhar junto dos emigrantes.
Nos
anos oitenta, é designado assistente para o diálogo no Movimento dos
Trabalhadores Cristãos, do qual é membro, desenvolvendo o seu trabalho durante
seis anos em Bruxelas, sede deste movimento. Volta a Portugal, para a diocese
de Setúbal e é pároco, entre outras comunidades, no Barreiro.
Em
2000, por iniciativa do atual Bispo de Angra, D. António de Sousa Braga,
regressa ao arquipélago onde começa por ser Vigário Episcopal para a Formação
e, por último, fica encarregue pela coordenação do Tribunal Eclesiástico na
delegação de Ponta Delgada.
Morreu
no dia 10 de setembro de 2004.
Por:
Carmo Rodeia | Out 2, 2014 | Açores
Autor/Fonte:
U.O.P. / igrejaacores
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