sábado, 6 de setembro de 2014

TRAÇOS DA NOSSA HISTÓRIA: FESTAS DA PADROEIRA NOSSA SENHORA MÃE DE DEUS

As festas em honra de Nossa Senhora Mãe de Deus remontam a 1595, altura que o Bispo de Angra, D. Manuel de Gouveia, publica o Alvará do “ Curato da Senhora Mãe de Deus, da Povoação Velha”.

Para entendermos melhor a relação das festas com o “Curato” temos de recuar no tempo e “agarrar” em Gaspar Frutuoso que na sua obra-prima “Saudades da Terra”, Livro IV, volume Iº, páginas 263 e seguintes refere que “João de Arruda da Costa, neto de Gonçalo Vaz, o Grande, casado com Catarina Favela, natural da Ilha da Madeira, mandou construir posteriormente a 1553, a igreja que fica situada entre duas ribeiras, à beira mar.

A invocação primitiva àquela igreja foi a Nossa Senhora dos Anjos, porque era a 15 de Agosto que se celebrava a sua festa.

Passados pouco mais de 42 anos, e por motivos de ordem económica, isto é: coincidia a celebração com o tempo das colheitas, é alterada a invocação para Nossa Senhora Mãe de Deus, celebrando-se a primeira festa da sua invocação na primeira semana de Setembro de 1595, dia que se celebra a Natividade de Nossa Senhora.

Por não oferecer segurança e já ser exígua demais para a quantidade de católicos existentes, foi em 2 de Fevereiro de 1848 que a Junta da Paróquia apresentou, de novo, ao Governador Civil a urgente necessidade em construir um novo templo na Vila da Povoação, explicando que a igreja de Nossa Senhora Mãe de Deus estava quase em ruínas e que a ermida de Santa Barbara era pequena demais para a população das três lombas que servia: Carro, Botão e Cavaleiro.

Solicitaram que o Governador Civil nomeasse e autorizasse “indivíduos inteligentes, para assignarem o local mais fácil e conveniente, para a sobredita construção”.

Toda esta campanha não resultou, mas também não fez desistir aqueles homens que a 14 de Fevereiro do mesmo ano, em sessão da Junta da Paróquia decidem empreender a construção do novo templo no centro da Vila, “fugindo, assim, à fúria das ondas que muitas vezes fustigavam a velhinha igreja.

Foram escolhidos os terrenos para a construção da nova igreja, pertencente a Francisco Félix Machado, Miquelina Rosa de Jesus e de Plácido Casimiro, a que se juntou o terreno pertencente a Francisco Dias Machado.

Por toda a Ilha do Arcanjo São Miguel foi promovido um peditório, incluindo o contributo dos paroquianos locais.

A primeira verba apurada da conjugação destes dois peditórios totalizou quatro contos noventa e sete mil e quinhentos reis.

Na ata da Junta da Paróquia do dia seguinte, 15 de Fevereiro de 1848, é lavrada, minuciosamente, as avaliações e orçamentos para a nova igreja: “Compareceram na reunião os proprietários João Francisco de Melo e Victorino José Pacheco, homens inteligentes e conhecedores de terrenos para fazerem a avaliação dos destinados para aquela construção.

Compareceram, também, os pedreiros João da Ponte Espiga, do lugar da Maia e João Bernardo, este da Povoação e ainda os carpinteiros Manuel Furtado dos Santos e Manuel de Melo, desta Vila, para avaliarem a obra de carpintaria e ferragem, os quais assim presentes, depois de prestarem nas mãos do Presidente juramento dos Santos Evangelhos, declararam: Que os terrenos a ocupar mediam um alqueire e meio e vinte cinco varas, avaliados em quatrocentos e vinte mil reis. A obra de pedreiro, constando de “corte de pedra, condução da mesma, cal e mão d’Obra na quantia de dois contos quinhentos e vinte reis. Os carpinteiros declaram que avaliam a madeira, pregos, linhas de ferro, ferragem e mão d’Obra, só de carpina, na quantia de um conto cento e cinquenta mil reis. Totaliza a avaliação em quatro contos e noventa mil reis”.

Curioso se tornou a proximidade entre o arrecadado e o orçado. Ainda existiria uma diferença positiva de sete mil e quinhentos reis.

Como “não há bela sem senão” registou-se mais um atraso no início das obras. Apenas 5 meses e 9 dias depois, a 24 de Julho de 1848 arrancam as obras de construção do novo templo, devido ao processo de expropriação judicial por utilidade pública que teve de ser requerido pela Junta da Paróquia que era constituída por: Cura Bernardo António Pacheco de Resende, Jacinto Manuel de Arruda, José Joaquim Botelho e Francisco Manuel de Resende.

Os anos seguintes foram de árduo trabalho para completarem a construção.

Durou oito anos erigir a Igreja Nossa Senhora Mãe de Deus e durante trinta anos se levaram a pedir esmola por toda a ilha.

O retábulo da capela-mor foi feito por Francisco Furtado de Mendonça da Ribeira Grande, tendo um custo de duzentos e oitenta mil reis. Estava a Igreja quase pronta, faltando apenas a capela que hoje é o do Senhor dos Passos e a torre sineira que mais tarde foi edificada pelo Padre Júlio César Augusto.


Em 1856 a Junta da Paróquia endereça um requerimento ao Bispo de Angra D. Frei Estêvão que é do seguinte teor: “Dizem o presidente e vogais da Junta da Paróquia da paroquial Igreja de Nossa Senhora Mãe de Deus da Vila da Povoação, que parecendo-lhes estar o templo novo com a decência suficiente para nele se celebrarem os ofícios do Culto Divino, vem humilde e respeitosamente implorar de V. Ex.ª licença para benzer, pois que a Igreja que atualmente serve de paróquia se acha em ruína perigosa, por ter o teto quase abatendo- se, e para este fim pedem a V. Ex.ª Rev. ma se digne deferir- lhe. E receberão Mercê “. O Bispo de Angra a 10 de Setembro de 1856 exara o seguinte despacho: “Damos comissão ao mui Ver. Prior de Sam Miguel de Vila Franca do Campo, para proceder à visita na Igreja de que se trata, lavrando-se competente auto, que será remetido a esta Câmara Eclesiástica, servindo de escrivão um dos Ver. Curas da mesma Igreja, e quando esta esteja com a decência devida, a benzerá. Quinta de Nossa Senhora das Almas, 10 de Setembro de 1856”. A bênção da Igreja de Nossa Senhora Mãe de Deus realiza-se a 28 de Setembro de 1856, pelo Prior de Vila Franca do Campo, Matheus de Amaral e Vasconcelos, por comissão do Sr. Bispo. Seguiu-se uma solene festividade dedicada à padroeira, com sermão recitado pelo Reverendo Jacintho Ignacio de Medeiros, da Maia.

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