quinta-feira, 31 de julho de 2014

DOR OROFACIAL CONDICIONA QUALIDADE DE VIDA

Artigo de Opinião Dr. Duarte Correia - Presidente da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor

A dor orofacial é percecionada no rosto e/ou cavidade oral. Pode ser provocada por distúrbios de estruturas regionais, disfunção do sistema nervoso ou ser referida na região oro facial com origem em fontes e locais distantes, agravada pela proximidade de outras estruturas, a exemplo dos olhos, nariz, dentes, língua, seios perinasais, ouvidos, músculos e articulações temporomandibulares.

A dor odontogénica/dentária é o exemplo típico de uma algia na face. A patologia odontogénica deve estar sempre presente nas hipóteses de diagnóstico que colocamos e a avaliação do doente deve incluir os dentes e as suas estruturas de suporte. Pode ter origem numa cárie com extensão à dentina ou polpa dentária, numa infecção ou necrose pulpar, num abcesso periapical ou periodontal nas fracturas ou traumas dentários. Por vezes esta sintomatologia pode simular uma nevralgia do trigémio, uma enxaqueca, uma cefaleia trigemino-autonómica. Devido à similaritude das queixas de dor odontogénica com outras entidades de dor orofacial, a patologia dentária deve ser sempre excluída.

Uma das causas de dor orofacial são as disfunções temporomandibulares que podem ser provocadas pela articulação temporomandibular (ATM) ou pelos músculos mastigatórios (DMM). É mais frequente no género feminino,  com pico de incidência entre os 20 e 40 anos e a sua prevalência é avaliada ente 9 a 13% da população. A DMM afeta os músculos de encerramento da mandíbula, é agravada pela mastigação, podendo estar associada a outra sintomatologia. A artralgia da ATM pode resultar de trauma e/ou sobrecarga desta articulação. Manifesta-se como uma dor aguda, agravada pela carga e movimento articular, irradiando para o ouvido. O diagnóstico é essencialmente clínico e o tratamento poderá ser centrado numa abordagem biopsicossocial.

O Distúrbio de Dor Dento-Alveolar Persistente manifesta-se com sintomas de dor persistente e contínua, localizada na região dento-alveolar, que não pode ser explicada no contexto de outras doenças ou distúrbios. Os mecanismos fisiopatológicos envolvidos são de natureza psicológica ou neuropática. O tratamento é baseado no parecer do especialista e podem ser úteis os anticonvulsivantes e antidepressivos tricíclicos, aliados à terapia cognitivo-comportamental.

A Nevralgia do Trigémio  e a Nevralgia do Glossofaríngeo, são síndromes dolorosos complexos no seu tratamento, de etiologia diversa. O Síndrome da Boca Ardente, a Dor Facial Idiopática Persistente e a Dor Orofacial Neurovascular (DON), são patologias pouco frequentes, de difícil diagnóstico e tratamento.

Como depreendemos pela cronicidade e intensidade, a dor orofacial pode condicionar a qualidade de vida do doente e ter um impacto social e psicológico significativo. A sua desvalorização e o inadequado conhecimento sobre as suas causas podem conduzir a diagnósticos imprecisos e à ineficácia das terapêuticas prescritas.

O tratamento da dor crónica orofacial deverá ser efetuado num contexto multidisciplinar e interdisciplinar, englobando entre outros, médicos dentistas, fisioterapeutas e psicólogos, numa abordagem global de natureza biopsicosocial, considerando o paciente como um “todo” e não apenas a dor que ocorre no momento. É importante que o médico assistente pondere a eventual necessidade de tratamento multidisciplinar da dor e proceda ao encaminhamento adequado, em tempo útil.

A APED (Associação Portuguesa Para o Estudo da Dor), capítulo português da IASP, dedica este ano uma atenção particular à “dor orofacial”, realizando diversas ações, para pacientes e profissionais de saúde, integradas no “Global Year Against Orofacial Pain”.

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