sábado, 26 de abril de 2014

JOÃO GUILHERME O JOVEM MICAELENSE MORTO PELA PIDE E QUE NÃO VIVEU ABRIL

Nunca é demais salientar, e fazer sobressair, o facto de a última vítima do regime de Salazar ter sido um micaelense: João Guilherme do Rego Arruda, natural da Freguesia de Santo António (Capelas).

O dia 25 de Abril de 1974 foi, para muitos, dia de liberdade, de muita alegria e, acima de tudo, de muita esperança. João Guilherme Arruda, revolucionário ativo, não teve oportunidade de viver o sonho pelo qual lutou: foi a última vítima da repressão do Estado Novo.

Com o processo de revolução em marcha, naquele dia, as universidades estavam fechadas, e a Faculdade de Letras de Lisboa, onde o João, de vinte anos, frequentava o segundo ano do curso de Filosofia, não foi exceção. Muitos dos alunos saíram, então, para os locais onde se desenrolavam os principais acontecimentos políticos.

Como muitos, o João esteve na rendição do Quartel do Carmo, onde se encontrava o presidente do conselho, Marcelo Caetano. Ao ouvir-se que a PIDE havia disparado sobre as pessoas (cerca das 14.15h) acorreram, rua abaixo, para a frente do edifício da PIDE, de má memória, na Rua António Maria Cardoso.

Pressionados pelos populares, que tentavam tomar o edifício, membros da PIDE/DGS dispararam rajadas de metralhadora sobre a multidão que se encontrava na rua.

Os tiros, vindos de uma janela do edifício, provocaram dezenas de feridos e cinco mortos, entre os quais, o João Guilherme.

Sabemos, hoje, pela boca do Capitão-de-Abril, Vasco Lourenço, que os comandos da Amadora, chefiados por Jaime Neves, deveriam ter tomado a Sede da PIDE/DGS, mas não o fizeram por razões pouco abonatórias para Jaime Neves, que em abono da verdade nunca foi homem de Abril.

O tiro que atingiu a cabeça do João não provocou a sua morte imediata: João Guilherme foi levado para o hospital , onde, mais tarde, viria a falecer.

Sem filiação a nenhum dos partidos de esquerda da época, como o PCP ou o MRPP, João Guilherme participava nas ações de ambos, “desde que fosse para dar pancadaria no governo”, como gostava de dizer.

A distribuição de cartazes e comunicados de propaganda política, ou a participação em greves e boicotes às aulas eram atividades frequentes na vida do João.

Era um rapaz “muito revolucionário e inteligente”, sendo dos poucos que lia Mao Tsé Tung. Não esqueço que foi o João que me ofereceu o livro “Portugal e o Futuro” do general António de Spínola, que acabou por ser o prenúncio de uma Revolução Anunciada.

O João Guilherme nunca recebeu a homenagem a que tinha direito, nem a família a mais pequena recompensa, pese embora o facto de Mota Amaral ter mandado celebrar missas e visitar o cemitério durante alguns anos e Manuel Arruda, presidente da Câmara de Ponta Delgada ter-lhe prestado homenagem com uma romagem ao cemitério aquando das comemorações dos 25 anos do 25 de Abril.

Presidência da República, Assembleias da República e Regional, Governos da República e Regional, para quando uma Homenagem a estes 5 mortos de Abril?

Em 1980 foi descerrada uma placa a frente do edifício da PIDE, retirada, por ser inadequada ao condomínio de luxo que hoje lá existe, mas que graças aos Cidadãos por Lisboa e a Helena Roseta, foi recolocada no sítio original, onde estão gravados os nomes dos 5 heróis de Abril que Abril não viram.

Foi com espanto que ouvi o Presidente da Associação 25 de Abril dizer que pensava que só tinham existido 4 mortos. Para que os seus nomes não desapareçam, quando a memória de Abril nos faltar, aqui se registam os “Homens de Abril que não viveram Abril:

António Lage, 32 anos de idade.

Fernando Luís Barreiros dos Reis, de 24 anos de idade, natural de Lisboa.
Francisco Carvalho Gesteiro, de 18 anos de idade, natural de Montalegre.

João Guilherme Rego Arruda, de 20 anos de idade, natural dos Açores e estudante em Lisboa;

José James Harteley Barneo, de 37 anos de idade, natural de Vendas

Por: Manuel de Sá Couto

Fonte: Açores 9, Abril de 2011

Fotos: DR









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