domingo, 9 de março de 2014

DOR CRÓNICA AFETA MAIS AS MULHERES

Ana Cristina Mangas, coordenadora do Grupo de Estudo de Medicina da Dor da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia

Todas as pessoas podem sofrer de dor crónica, mas a população feminina é a mais afetada, possivelmente porque a sua esperança de vida é maior, mas também porque a dor crónica está associada às doenças degenerativas mais frequentes nas mulheres.

Estima-se que mais de um milhão e quatrocentas mil mulheres portuguesas sofram de dor crónica. Muitas vezes esta situação é negligenciada pois de ser tão vulgar e frequente não é valorizada. Mas este “fardo” não é necessariamente algo que não possa ser aliviado.

Sinais de alerta…

A dor aguda surgida de uma forma repentina e deliberada ou não, está associada a uma causa reconhecida, sendo importante reconhecer o seu papel enquanto alarme para algo que possa não estar bem. Esta é a chamada dor fisiológica ou sintoma. Funciona habitualmente como um alerta e incentiva-nos a procurar cuidados de saúde. Habitualmente deve ser abordada do ponto de vista farmacológico, e resolvida a questão que lhe deu origem deve desaparecer sem deixar rasto.

Quando a dor permanece, seja porque a situação de saúde desencadeante não ficou resolvida ou porque outros mecanismos levaram a que essa dor perpetuasse, temos então presente a dor crónica ou persistente, que de acordo com os consensos internacionais dura pelo menos há mais de três meses ou para além do que seria habitual no processo de resolução da doença.

Esta situação de dor crónica deve ser reconhecida como doença em si própria, embora possa resultar de situações muito diferentes. Trata-se de um problema grave de saúde pública pela extensão de população abrangida.

Dor crónica tem custos sociais e económicos elevadíssimos…

As situações mais frequentes reconhecidas de dor são as lombalgias, as dores ósseas, as cefaleias, as dores associadas a lesões nervosas e a fibromialgia. Nas mulheres, apesar de menos conhecidas, determinadas situações ligadas a problemas ginecológicos como as dores pélvicas da endometriose, as vulvodinias ou as dores pós-mastectomia são muito frequentes mas muitas vezes não diagnosticados.

A dor crónica tem um custo brutal a nível social considerando não só os custos diretos em despesas de saúde mas também os custos sociais resultantes do absentismo ou das reformas antecipadas.

A importância da dor crónica na população feminina a nível mundial justificou que em 2008 um organismo internacional, a Associação Internacional para o Estudo da Dor, considerasse o tema da dor na mulher como o mote de uma campanha a nível mundial “Dor real em mulheres reais”, dado que a dor crónica nas mulheres não é reconhecida nem adequadamente tratada.

Divulgação é fundamental !!!

É necessário divulgar, e não só junto das mulheres, que podemos e devemos exigir que a dor seja abordada nos cuidados de saúde de uma forma mais ativa. Esse é o repto que aqui é deixado; na sua vida controle a sua dor e não deixe que a dor controle a sua vida.

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