terça-feira, 14 de janeiro de 2014

RIBEIRA QUENTE - OS TÚNEIS DA LIBERDADE: AS INAUGURAÇÕES (CONTINUAÇÃO)

As inaugurações dos túneis e da estrada da Ribeira Quente Foram dois momentos que marcaram uma nova etapa na história desta localidade. Representam a abertura deste povoado ao exterior, a sua libertação de um quase total isolamento.

Inauguração da galeria de avanço do 2º túnel

A 22 de junho de 1939, teve lugar na Ribeira Quente a inauguração da galeria de avanço do 2º túnel.

Descreve-nos a imprensa da época que, à entrada do túnel em construção e sob o plano inclinado que dava acesso à comunicação com a galeria de avanço, encontrava-se desenhada com flores naturais a seguinte dedicatória: Bem Vindo.

Na festa do lado da Ribeira Quente havia também ramos suspensos no ar com as palavras, Viva Salazar.

Pelas 15 horas os foguetes anunciaram a chegada das autoridades que foram recebidas pelo Eng.º Floriano Borges.

Ilustraram essa cerimónia com a sua presença, o Governador Civil, Dr. Vieira Neves e sua esposa Sr.ª D. Maria Lucélia Bragança.

A representar a Junta Geral do distrito Dr. Duarte Manuel de Andrade de Albuquerque Bettencourt, Dr. João Bernardino de Oliveira Rodrigues, Raul de Mendonça e Dr. António A. De Mendonça Dias.

Marcaram também a sua presença os senhores, Dr. Francisco Vaz Pacheco de Castro, diretor das Obras Públicas; Floriano Augusto Borges, condutor chede de secção; Dr. Francisco Rego Costa, secretário da Junta Geral; Dr. Egas de Castro, Alberto Benevides e os representantes da imprensa: Manuel José Dias pelo Correio dos Açores; Manuel Inácio de Melo pela Ilha; Aníbal Bicudo pelo Diário dos Açores; o engenheiro Barradas, avaliador da Caixa Geral de Depósitos, Dr. Frederico Moniz Pereira e o fotógrafo Kurt Michaelis.

A abertura da cerimónia foi feita pelo Dr. Duarte Manuel Andrade A. Bettencourt, presidente da Junta Geral, o qual dirigiu o seu agradecimento ao Sr. Governador Civil pela sua comparência naquela inauguração.

Proferiu em breves palavras que a dita obra foi da competência da Comissão Administrativa da Junta Geral, com a comparticipação do Estado, não deixando de realçar que fora preocupação constante da Comissão a distribuição dos trabalhos às populações do distrito de Ponta Delgada de maneira proporcional.

Ao terminar, não deixou de recordar a condição de isolamento da Ribeira Quente antes da realização da estrada de rodagem.

Encerrando o seu discurso, felicitou o diretor das Obras Públicas Eng.º Francisco Pacheco de Castro e o autor do projeto, Sr. Floriano Borges, estendendo os elogios aos seus dirigentes e a todos os funcionários das Obras Públicas.

De seguida teve a palavra o Sr. Governador Civil, deixando registadas as suas congratulações à Administração da Junta Geral que orientou a obra e a todos aqueles que nela desenvolveram o seu trabalho, inteligência e esforço.

Prosseguiu a cerimónia, passando-se ao ato inaugural da obra. O Sr. Floriano Borges recebeu do apontador a simbólica picareta que a entregou ao Dr. Vieira Neves pedindo-lhe que fosse sua esposa, Sr.ª D. Maria Tereza Neves, a praticar o primeiro golpe na galeria do 2º túnel.

A espessura aproximadamente de 15cm, que separava os dois lados do túnel, fora naquele momento aberta. Primeiro um pequeno orifício pela Sr.ª D. Maria Neves, e depois pelos trabalhadores, que o transformaram em passagem. Esse momento fora coroado com palmas e foguetes.

Após este ato, o Sr. Governador Civil e os restantes convidados atravessaram o túnel.

Do lado da Ribeira Quente, esperavam-lhes um número considerável de povo e os professores primários da freguesia, Sr.ª D. Maria José Botelho e o Sr. Artur Brilhante que se faziam acompanhar dos respetivos alunos, os quais ofereceram, a sua Excelência, o Governador Civil e sua esposa, ao Presidente da Junta Geral, ao Diretor das Obras Públicas e ao chefe da obra, ramos de flores num gesto simbólico de gratidão.

Entretanto, os mestres da obra: Manuel Galante e José Pimentel foram apresentados pelo Sr. Floriano Borges aos Sr.ºs Governador Civil e Presidente da Junta Geral, a pedido destes.

De seguida, as crianças cantaram o hino A Portuguesa, que fora ouvido por todos em sentido.

À despedida foram levantadas vivas ao Sr. Governador Civil, ao Presidente da Junta Geral, aos Sr. Floriano Borges e ao Estado Novo.

Seguiu-se um refresco oferecido s todos os convidados.

Inauguração da estrada Túnel da Ribeira Quente

A imprensa da época noticiou com frequência a tão desejada inauguração.

A 11 de Agosto de 1940 o Correio dos Açores, a 14 e 16 de Agosto de 1940 o Diário dos Açores.

Enquadrada nas Comemorações Nacionais do Duplo Centenário da Fundação e Restauração da Independência de Portugal, no dia 18 de Agosto de 1940, promovidas pela Junta Geral, pelas 15:00 horas, a inauguração da estrada Túnel da Ribeira Quente tornou-se realidade.

Naquele dia festivo, o povo da Ribeira Quente preparou-se para receber na sua terra as mais distintas autoridades do distrito.

Convidados pelo Presidente da Comissão local dos Centenários e da Comissão Administrativa da Junta Geral, Dr. Duarte Albuquerque, estavam presentes: Dr. João Correia da Silva, Governador do distrito, substituto, General Ernesto Machado, Governador Militar dos Açores; Capitão Jaime Adelino César Gomes, Comandante da P.S.P.; Dr. Ernesto Hintze Ribeiro, representante do Comandante Distrital da Legião Portuguesa; Pe. José Gomes, Ouvidor Eclesiástico; Comissão Administrativa da Junta Geral; Municípios da ilha de São Miguel; Diretor das Finanças, Dr. Rodrigo Rodrigues; Chefe da Secretaria da Junta Geral, Dr. Francisco Manuel Rego Costa; representantes do Diretor Escolar; Adjunto do Delegado Provincial, Manuel Moniz Morgado; Engenheiros Francisco Xavier Vaz Pacheco de Castro, Clemente Soares de Medeiros, Abel Coutinho, o Eng.º Auxiliar Floriano Victor Borges e os representantes da imprensa.

A chegada das autoridades foi anunciada com foguetes.

A entrada do túnel encontrava-se vedada com uma fita com as cores nacionais, que fora cortada pelo Sr. Dr. João Correia da Silva, simbolizando a abertura do ramal ao trânsito.

Este acontecimento simbólico fora antecedido pelo discurso do Presidente da Comissão dos Centenários, prosseguindo-se a oferta de ramos de flores pelos apontadores da obra, ao Sr. Governador do Distrito, ao Eng.º Francisco Pacheco e ao Eng.º auxiliar Floriano Victor Borges.

O Dr. João Correia da Silva cortou a fita simbólica, ficando o ramal aberto.

Aberta a estrada, os automóveis com as entidades convidadas atravessaram os túneis em direção à Ribeira Quente.

O povoado encontrava-se devidamente embandeirado. A banda de música Harmónica Furnense, as crianças das escolas com os respetivos professores e todo o povo da Ribeira Quente receberam as autoridades.

Relata o jornal A Ilha, que o “povo da Ribeira Quente está ali de fato domingueiro, bota calçada, mantilha desdobrada, sorriso aberto com uma alegria que não tem similar. Uma banda de música executa uma marcha a preceito e as crianças das escolas com os respetivos estandartes, estendem os braços em continência…”(12).

Encerradas as cerimónias, num pavilhão armado na rua principal da Ribeira Quente, discursou em nome do povo, o professor António do Rego Soares.

Agradecendo o grande benefício concedido pelo Estado Novo àquela terra e felicitando todos aqueles que trabalharam para a realização daquela obra, o professor realça também a importância do contributo daquela região em impostos para o Estado e alerta para as consequências do facto da obra já ter terminado.
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(12)  - In jornal A Ilha, 20 de Agosto de 1940.            

Fonte: Livro de Maria de Deus Raposo Medeiros Costa “Os Túneis da Liberdade”

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