Em
Água Retorta praticamente toda a gente conhece o caso. Os vizinhos sabem que a
senhora de 47 anos tem necessidades especiais e os conhecidos dizem que
praticamente ninguém “de fora” entra na casa onde agora mora Teresa Araújo
Braga.
A
mulher está ao cuidado da cunhada e do irmão e com 47 anos pesa apenas 37
quilos. “Uma dor d’alma” dizem alguns vizinhos e até familiares que se recusam
a dar a cara com medo de represálias que uma localidade pequena pode suscitar.
No
entanto, já houve quem arriscasse e procurasse as autoridades para fazer queixa
de alegados maus-tratos que Teresa é alvo diariamente. Já chegaram queixas à
Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, à Polícia de Segurança Pública e até
aos serviços da segurança social.
Testemunhas das
alegadas agressões lembram episódio
Testemunhas
das alegadas agressões físicas e psicológicas, recordam uma situação em que a
alegada vítima, que não se consegue exprimir, terá caído em casa junto a uma
mesa. A cuidadora terá dito na altura algo como “cai mas não partas a jarra”.
Teresa Braga terá tido piolhos e a solução encontrada foi cortarem-lhe o cabelo
em vez de realizar um tratamento. As consultas ao médico de família vão sendo
adiadas e quando acontecem “não são cumpridas as instruções de realizar
análises pedidas pelo médico”. Testemunhas ouvidas pelo “Correio dos Açores”
advertem que não foi feita qualquer queixa por parte do clínico junto das
entidades oficiais acerca dos alegados maus-tratos que incluem também o facto
de Teresa Araújo Braga ser deitada “sem fraldas num colchão forrado de
plásticos” para que as necessidades fisiológicas não passem para o colchão. Uma
das testemunhas questiona “porque é que não pedem fraldas para a Teresa, quando
os serviços de acção social até dão fraldas a quem tem necessidades especiais”?
Há
ainda quem lembre que Teresa Araújo Braga passa os dias numa cadeira
ortopédica, usada para as necessidades fisiológicas. É ali que fica sentada
durante todo o dia, onde nem precisa de se levantar para fazer as necessidades
e ali fica novamente.
Quem
consegue ir visitar Teresa recorda que é muito raro comer algo como um iogurte.
As suas limitações de expressão não a permitem agradecer mas quando uma visita
lhe leva algum iogurte ou papas “ela agradece à sua maneira e nota-se nos seus
olhos. Fica muito alegre apesar de não conseguir dizer isso”.
Teresa
Araújo Braga recebe 400 euros de reforma e vizinhos, e até familiares,
questionam “se ela não usa fraldas, se pouco ou nada come de diferente, se não
gasta o seu dinheiro é porque alguém lhe fica com o dinheiro”.
Quem
vive em Água Retorta lembra que a cunhada e o irmão de Teresa já cuidaram da
mãe dela que faleceu há cerca de dois anos. “Já nessa altura maltratavam as
duas e a mãe da Teresa morreu à míngua”, contam as testemunhas.
Testemunhas
que não compreendem como é que toda a gente sabe da situação e ninguém faz
nada. Não compreendem como é que “se fosse uma criança menor já teria
certamente sido retirada dos pais e uma pessoa com necessidades especiais tem
de continuar a sofrer estes abusos”. Não compreendem como é que os serviços
sociais continuam a manter Teresa Araújo Braga m casa dos cuidadores que
alegadamente a maltratam.
IDSA entrega
processo ao Ministério Público
Certo
é que a única situação oficial que se conhece é que o Núcleo de Apoio a Pessoas
com Deficiência, do Instituto para o Desenvolvimento Social dos Açores “tem
acompanhado”Teresa Araújo Braga na sequência “de uma denúncia de suposta
situação de negligência sobre pessoa com deficiência efectuada junto destes
serviços”, indica informação oficial da Secretaria Regional da Solidariedade
Social.
Depois
da denúncia, os serviços tomaram “de imediato várias medidas”, onde incluem
visitas domiciliárias sem aviso prévio, entrevistas a familiares de Teresa,
convocatórias e reuniões com várias entidades envolvidas no processo “com vista
a averiguar e reunir informações sobre a situação”, informa o documento
oficial.
Depois
de todas as diligências efectuadas pelo Núcleo de Apoio a Pessoas com
Deficiência, foi elaborado um relatório técnico pelos serviços “com as
informações apuradas e sinalizada a situação aos respectivos Serviços do
Ministério Público” informa fonte oficial.
O
processo está agora em tribunal e o “Correio dos Açores” sabe que o processo
deu entrada no Tribunal da Povoação como processo-crime, onde os cuidadores
poderiam ser acusados perante as alegadas denúncias, mas passou para
processo-administrativo, o que significa que qualquer decisão será apenas no
sentido da retirada da alegada vítima dos cuidados da cunhada e do irmão.
Fonte:
Correio dos Açores – Escrito por Carla Dias
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