quinta-feira, 10 de outubro de 2013

DOR CRÓNICA NA CRIANÇA: VALORIZE AS SUAS QUEIXAS

Artigo de opinião de Duarte Correia – Presidente da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor

As experiências repetidas de dor na infância e na adolescência repercutem-se, de forma física e psicológica para toda a vida. Quando as queixas de dor são frequentes, pode tratar-se de dor crónica, pelo que é importante investigar as suas causas, avaliar corretamente a dor e iniciar precocemente o tratamento mais adequado. Também na dor aguda, é dever dos profissionais de saúde intervir atempadamente prevenindo o sofrimento desnecessário das crianças, e evitando que aquela se transforme em dor crónica. O controlo da dor é um indicador da qualidade dos serviços de saúde.

Nas crianças e adolescentes, as principais causas de dor aguda são os acidentes, os procedimentos invasivos e as intervenções cirúrgicas. Também pode haver dor persistente ou prolongada decorrente da doença ou de tratamentos médicos. Mas a dor crónica nas crianças e adolescentes é mais frequente do que se pensa, seja associada a doenças crónicas que causam inflamação e dor, seja sem causa aparente como as dores de costas, as dores nos membros ou as dores de barriga.

A dor nas crianças a partir dos 3 ou 4 anos pode ser avaliada através do que as crianças dizem (auto-relato), pois já conseguem dialogar e expressar-se verbalmente. Antes dessa idade, ou nas crianças com dificuldades de comunicação, a avaliação da dor é feita por observação do seu comportamento (hetero-relato). Em qualquer dos casos, existem escalas de dor apropriadas para diferentes idades e situações que permitem conhecer a intensidade da dor, bem como a sua localização e características.

A prevenção e o tratamento da dor, na maioria das situações, podem ser feitos com recurso a medicamentos pouco dispendiosos, associados a técnicas não farmacológicas que ajudam a controlar o medo e a ansiedade, e a melhorar a condição física.

Para as crianças e adolescentes, não existem ainda em Portugal, ao contrário do que acontece noutros países, unidades de dor crónica multidisciplinares que sejam centros de referência para o tratamento da dor crónica.

Os pais devem partilhar com os profissionais de saúde o seu conhecimento das experiências anteriores traumatizantes e medos do seu filho, assim como os efeitos da dor na vida diária e o comportamento da criança em ambiente familiar.

Os profissionais dispõem de um conjunto de orientações técnicas dirigidas aos profissionais de saúde sobre o controlo da dor em recém-nascidos, nas crianças com doença oncológica e na realização de procedimentos invasivos, publicadas pela Direção-geral da Saúde nos últimos dois anos.



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