quinta-feira, 12 de setembro de 2013

RECORDAR UMA DAS FUNCIONÁRIAS DO JARDIM DE INFÂNCIA QUE PARTIU PREMATURAMENTE – ZÉLINHA LINHARES

E porque a Fundação Maria Isabel do Carmo Medeiros comemorou ontem meio século de vida, não queria deixar de passar esta comemoração sem recordar uma grande povoacense que nutro um carinho muito especial, e, que, foi a minha primeira educadora de infância, começando assim os meus passos traquinas no Jardim Infantil com ela e toda uma equipa de grandes povoacenses ao trabalho da nossa comunidade.

Este já foi um tema abordado por mim, mas que faz todo o sentido voltar a publicá-lo, em especial nas comemorações do cinquentenário da Fundação Maria Isabel do Carmo Medeiros, também para que fique registado no meu blog.

RECORDAÇÕES DO PASSADO:

A NOSSA ETERNA ZÉLINHA LINHARES

É verdade que vivemos o presente perspectivando o futuro, um futuro que é incerto e vive sempre na incerteza, até porque, não sabemos se a ele chegamos com vida e saúde, mas de uma coisa podemos ter a certeza é que no presente temos a capacidade de reavivar a memória recordando com alegria o passado, este, que de qualquer forma nos marcou profundamente quer pela positiva quer pela negativa.

Reavivando estas memórias de outrora há alguém de quem me recordo frequentemente com emoção, pois foi uma pessoa que marcou pela positiva a minha infância e juventude, bem como, estou certo, o de muitos Povoacenses da minha geração. Esta pessoa que desapareceu do mundo dos vivos prematuramente deixou marcas na sociedade Povoacense. Ela era uma pessoa cheia de vida sempre muito activa e sempre pronta a embarcar em novos desafios, logo que úteis à sociedade. Refiro-me a uma grande mulher cujo percurso de vida foi dedicado aos mais pequeninos bem como aos jovens desta terra. Nasceu a 8/12/1946 e é de seu nome Zélinha Linhares.

“Criados por Deus e para Deus a ele regressamos, no dia em que desfeita esta morada terrestre uma nova morada nos espera no Céu! Para Zélinha Linhares esse dia chegou aos 50 anos de vida, a 25 de Junho de 1997”.

Lembro-me desta grande mulher desde criança, e foi no jardim infantil que muitos rapazes e raparigas da minha geração tiveram o primeiro contacto com a Zélinha, mulher que adorava-mos principalmente quando pegava no seu violão e com os seus enérgicos dedos fazia vibrar suas cordas produzindo o som perfeito para em conjunto cantar-mos alegremente lindas canções. Também era uma excelente contadora de história, ficava-mos embebidos quando Zélinha sempre com o seu amigo inseparável, o seu violão claro, nos fazia viajar a outra dimensão. A pior hora para mim era depois do almoço, tinha-mos de dormir a cesta e birra aqui, birra ali, com muita malícia fazia-nos incutir suas regras, a verdade é que éramos crianças terríveis. Lembro-me de numa das tardes de receio eu e mais dois ter-mos fugido do colégio e ter-mos ido beira mar fora brincar. Zélinha e as outras responsáveis ficaram, claro, apavoradíssimas e quando aparecemos foi uma reprimenda forte e feia de modo a que nunca mais se repetisse tal acto.

Mais tarde aquando da passagem para a primária Zélinha continuaria a acompanhar-nos, agora na catequese, era sem dúvida uma mulher com determinação inconfundível, mulher de fé, mulher dedicada às causas da sua terra, e mais uma vez lá estava ela a dar o seu contributo à sociedade incutindo a palavras de Deus e os bons valores aos meninos que partiram do jardim de infância rumo à adolescência.

Na passagem para o Externato agora mais crescidos Zélinha volta a acompanhar-nos, desta feita esta mulher mais uma vez contribui de forma relevante na sociedade, foi uma das pioneiras do nascimento dos escuteiros nesta Vila. O agrupamento 766 da Povoação veio dar um novo alento a toda aquela rapaziada que na força da juventude desejava aventura. Nesta fase da minha vida vivi realmente momentos que jamais se apagarão de minha memória. Reunia-mos uma vez por semana desenvolvia-mos diversas actividades, as mais esperadas, desejadas e divertidas, sem dúvida os acampamentos, caminhadas, acantonamentos, carnaval e Natal. Quem não se lembra do primeiro acampamento nas Olocaias na Lomba do Botão aonde à roda da fogueira e ao som do violão da Zélinha cantava-mos, dançava-mos, sua energia e alegria contagiava-nos de tal forma que até os mais tímidos saíam do casulo participando naturalmente no animado convívio. Aproximando-se o Natal toda a preparação para a festa que reunia toda a família escutista era muito animada e contagiante, Zélinha dedicava-se com mais afeição aos mais novos do agrupamento, os lobitos, coisa que não era de admirar numa mulher que adorava crianças, mas nunca deixava de acompanhar os mais crescidos que outrora tinham passado por suas mãos. O Carnaval era mais uma época aguardada com expectativa por todos, e mais uma vez esta mulher com o seu espírito jovial e sempre animado empolgava o grupo na preparação e organização do desfile pelas ruas desta Vila. Enfim muito mais havia a contar sobre esta Povoacense que dedicou parte da sua curta vida a esta sociedade.

Zélinha Linhares partiu há 16 anos e recordo com emoção esse dia. Foi um momento doloroso ver partir aquela mulher que antes da sua prolongada doença demonstrara todo o seu amor pela vida, pois irradiava energia e muita alegria. Partiu assim rumo a outra vida num dos funerais mais bonitos que presenciei neste concelho. Foi um mar de juventude com semblante carregado e lágrimas a fluírem cara abaixo que em profundo silêncio transportando bonitas e coloridas flores acompanharam Zélinha à sua ultima morada, como a querem dizer até sempre e obrigado por tudo de bom que nos deste e proporcionaste. Realmente demonstrativo de como esta mulher deixou a sua marca perante muitos jovens Povoacenses dos quais hoje muitos já constituíram família.

Mas não posso terminar sem fazer referência à mágoa que sinto por esta mulher ainda não ter merecido a atenção de quem dirige os destinos deste concelho. Aquando das comemorações da elevação desta Vila a Concelho no Salão Nobre da Câmara Municipal assiste-se, e muito bem, à sessão solene aonde são agraciados com Méritos e Menções Honrosas personalidades e instituições, pelos trabalhos e feitos benéficos à sociedade desenvolvidos em prol de suas Freguesias e Concelho. Porém, saindo deste nobre salão, deixo aqui o repto a quem de direito para que num próximo futuro seja atribuído a uma rua a toponímia em sua honra, para que todos se lembrem desta ilustre Povoacense.

Com muita saudade

Pedro Damião Ponte

“Não morro, entro na Vida”
(St.ª Teresinha)

O amor busca o bem por todo o lado, o amor não tem inveja, o amor não é fanfarrão, o amor não cria ilusões.
O amor não se dá por ser bonito.
O amor não se busca a si mesmo.
O amor não deixa que lhe amargurem a vida, nem é rancoroso.
Nem se alegra com os enganos dos outros.
Regozija-se com todas as coisas boas que acontecem.
O amor suporta tudo, o amor espera tudo, o amor aguenta tudo.

O amor não acaba nunca.

(São Paulo)

“Senhor,

Brilha para a Zélinha a luz eterna, juntamente com os Vossos Santos para sempre, porque Vós sois bom. Dai-lhe, Senhor o eterno descanso entre os resplendores da luz perpétua.”

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