E porque a Fundação Maria
Isabel do Carmo Medeiros comemorou ontem meio século de vida, não queria deixar
de passar esta comemoração sem recordar uma grande povoacense que nutro um
carinho muito especial, e, que, foi a minha primeira educadora de infância,
começando assim os meus passos traquinas no Jardim Infantil com ela e toda uma
equipa de grandes povoacenses ao trabalho da nossa comunidade.
Este já foi um tema
abordado por mim, mas que faz todo o sentido voltar a publicá-lo, em especial
nas comemorações do cinquentenário da Fundação Maria Isabel do Carmo Medeiros,
também para que fique registado no meu blog.
RECORDAÇÕES DO PASSADO:
A NOSSA ETERNA ZÉLINHA
LINHARES
É verdade que vivemos o
presente perspectivando o futuro, um futuro que é incerto e vive sempre na
incerteza, até porque, não sabemos se a ele chegamos com vida e saúde, mas de
uma coisa podemos ter a certeza é que no presente temos a capacidade de
reavivar a memória recordando com alegria o passado, este, que de qualquer
forma nos marcou profundamente quer pela positiva quer pela negativa.
Reavivando estas memórias
de outrora há alguém de quem me recordo frequentemente com emoção, pois foi uma
pessoa que marcou pela positiva a minha infância e juventude, bem como, estou
certo, o de muitos Povoacenses da minha geração. Esta pessoa que desapareceu do
mundo dos vivos prematuramente deixou marcas na sociedade Povoacense. Ela era
uma pessoa cheia de vida sempre muito activa e sempre pronta a embarcar em
novos desafios, logo que úteis à sociedade. Refiro-me a uma grande mulher cujo
percurso de vida foi dedicado aos mais pequeninos bem como aos jovens desta
terra. Nasceu a 8/12/1946 e é de seu nome Zélinha Linhares.
“Criados por Deus e para
Deus a ele regressamos, no dia em que desfeita esta morada terrestre uma nova
morada nos espera no Céu! Para Zélinha Linhares esse dia chegou aos 50 anos de
vida, a 25 de Junho de 1997”.
Lembro-me desta grande
mulher desde criança, e foi no jardim infantil que muitos rapazes e raparigas
da minha geração tiveram o primeiro contacto com a Zélinha, mulher que
adorava-mos principalmente quando pegava no seu violão e com os seus enérgicos
dedos fazia vibrar suas cordas produzindo o som perfeito para em conjunto
cantar-mos alegremente lindas canções. Também era uma excelente contadora de
história, ficava-mos embebidos quando Zélinha sempre com o seu amigo
inseparável, o seu violão claro, nos fazia viajar a outra dimensão. A pior hora
para mim era depois do almoço, tinha-mos de dormir a cesta e birra aqui, birra
ali, com muita malícia fazia-nos incutir suas regras, a verdade é que éramos
crianças terríveis. Lembro-me de numa das tardes de receio eu e mais dois
ter-mos fugido do colégio e ter-mos ido beira mar fora brincar. Zélinha e as
outras responsáveis ficaram, claro, apavoradíssimas e quando aparecemos foi uma
reprimenda forte e feia de modo a que nunca mais se repetisse tal acto.
Mais tarde aquando da
passagem para a primária Zélinha continuaria a acompanhar-nos, agora na
catequese, era sem dúvida uma mulher com determinação inconfundível, mulher de
fé, mulher dedicada às causas da sua terra, e mais uma vez lá estava ela a dar
o seu contributo à sociedade incutindo a palavras de Deus e os bons valores aos
meninos que partiram do jardim de infância rumo à adolescência.
Na passagem para o
Externato agora mais crescidos Zélinha volta a acompanhar-nos, desta feita esta
mulher mais uma vez contribui de forma relevante na sociedade, foi uma das
pioneiras do nascimento dos escuteiros nesta Vila. O agrupamento 766 da Povoação
veio dar um novo alento a toda aquela rapaziada que na força da juventude
desejava aventura. Nesta fase da minha vida vivi realmente momentos que jamais
se apagarão de minha memória. Reunia-mos uma vez por semana desenvolvia-mos
diversas actividades, as mais esperadas, desejadas e divertidas, sem dúvida os
acampamentos, caminhadas, acantonamentos, carnaval e Natal. Quem não se lembra
do primeiro acampamento nas Olocaias na Lomba do Botão aonde à roda da fogueira
e ao som do violão da Zélinha cantava-mos, dançava-mos, sua energia e alegria
contagiava-nos de tal forma que até os mais tímidos saíam do casulo
participando naturalmente no animado convívio. Aproximando-se o Natal toda a
preparação para a festa que reunia toda a família escutista era muito animada e
contagiante, Zélinha dedicava-se com mais afeição aos mais novos do
agrupamento, os lobitos, coisa que não era de admirar numa mulher que adorava
crianças, mas nunca deixava de acompanhar os mais crescidos que outrora tinham
passado por suas mãos. O Carnaval era mais uma época aguardada com expectativa
por todos, e mais uma vez esta mulher com o seu espírito jovial e sempre
animado empolgava o grupo na preparação e organização do desfile pelas ruas
desta Vila. Enfim muito mais havia a contar sobre esta Povoacense que dedicou
parte da sua curta vida a esta sociedade.
Zélinha Linhares partiu há
16 anos e recordo com emoção esse dia. Foi um momento doloroso ver partir
aquela mulher que antes da sua prolongada doença demonstrara todo o seu amor
pela vida, pois irradiava energia e muita alegria. Partiu assim rumo a outra
vida num dos funerais mais bonitos que presenciei neste concelho. Foi um mar de
juventude com semblante carregado e lágrimas a fluírem cara abaixo que em
profundo silêncio transportando bonitas e coloridas flores acompanharam Zélinha
à sua ultima morada, como a querem dizer até sempre e obrigado por tudo de bom
que nos deste e proporcionaste. Realmente demonstrativo de como esta mulher
deixou a sua marca perante muitos jovens Povoacenses dos quais hoje muitos já
constituíram família.
Mas não posso terminar sem
fazer referência à mágoa que sinto por esta mulher ainda não ter merecido a
atenção de quem dirige os destinos deste concelho. Aquando das comemorações da
elevação desta Vila a Concelho no Salão Nobre da Câmara Municipal assiste-se, e
muito bem, à sessão solene aonde são agraciados com Méritos e Menções Honrosas
personalidades e instituições, pelos trabalhos e feitos benéficos à sociedade
desenvolvidos em prol de suas Freguesias e Concelho. Porém, saindo deste nobre
salão, deixo aqui o repto a quem de direito para que num próximo futuro seja
atribuído a uma rua a toponímia em sua honra, para que todos se lembrem desta
ilustre Povoacense.
Com muita saudade
Pedro Damião Ponte
“Não morro, entro na Vida”
(St.ª Teresinha)
O amor busca o bem por
todo o lado, o amor não tem inveja, o amor não é fanfarrão, o amor não cria
ilusões.
O amor não se dá por ser
bonito.
O amor não se busca a si
mesmo.
O amor não deixa que lhe
amargurem a vida, nem é rancoroso.
Nem se alegra com os
enganos dos outros.
Regozija-se com todas as
coisas boas que acontecem.
O amor suporta tudo, o
amor espera tudo, o amor aguenta tudo.
O amor não acaba nunca.
(São Paulo)
“Senhor,
Brilha para a Zélinha a
luz eterna, juntamente com os Vossos Santos para sempre, porque Vós sois bom.
Dai-lhe, Senhor o eterno descanso entre os resplendores da luz perpétua.”
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