quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O POVOACENSE LUÍS DINIS UM ARTISTA AUTODIDACTA NATO

Luís Diniz Pacheco nasceu a 20 de Julho de 1930 na Vila da Povoação e desde muito cedo se apaixonou pela pintura. A arte de pintar aprendeu-a sozinho, com o tempo foi aperfeiçoando o seu talento, incentivado em muito pelos forasteiros que visitavam a nossa Vila da Povoação.

Aos 16 anos começou a trabalhar como empregado de balcão no Café Jardim, nas suas horas vagas pintava cartazes para o cinema local em jeito de publicidade, desenhou e pintou muitos cenários para peças de teatro que se faziam na época na nossa vila, foi durante muitos anos pintor da construção civil, foi sacristão e contínuo do Externato Maria Isabel do Carmo Medeiros, foi restaurador de imagens, fez pintura e douramentos em igrejas da nossa ilha (Igreja do Senhor Santo Cristo dos Milagres, Ponta Garça, Achadinha, Faial da Terra e tantas outras…), e até da ilha de São Jorge, ainda, foi, e, é, distribuidor de jornais.

Luís Diniz não teve qualquer tipo de instrução em matéria de artes plásticas, diz mesmo ter constituído uma “aventura” ter alcançado um patamar tão elevado.

“Há coisas na vida em que um homem planeia uma coisa e acontece outra”. É assim que o mestre Luís Diniz descreve aventuras e desventuras de alguns dos quadros que pintou. São experiências de onde o pintor tira sempre um aspecto positivo, nem que seja não vender um quadro, “Às vezes fico satisfeito em não vender, custa-me fazer um quadro e vê-lo sair de casa para fora”.

Um dos quadros que lhe ficou em casa foi o quadro designado por “EUROICA” encomenda de Hermann Pfattheicher, um editor e promotor de artes plásticas de Bona, Alemanha, encomendou e pagou três mil marcos para enviar o quadro para o Parlamento Europeu. “O alemão disse-me que vinha buscar o quadro, mas…nunca mais apareceu. Acabei por oferecer o quadro ao Ernesto da Nova Gráfica porque era muito grande e ocupava-me muito espaço aqui em casa”.

O nosso conterrâneo mestre Luís Diniz ao longo da sua vida apresentou trabalhos seus ao público em exposições oficiais. A primeira, no Museu Carlos Machado, em 1975. Luísa Athayd, então responsável pelo Museu, solicitou ao mestre Luís para descer à baixa e expor. Em 1986 expôs na Academia das Artes, a convite do jornal “Açoriano Oriental”. Expôs nos Estados Unidos, para a comunidade Portuguesa radicada em Massachussets. Expôs na inauguração do nosso Auditório Municipal.

Durante o ano de 2004 a nossa Câmara Municipal acarinhou três exposições de pintura de Luís Dinis. A primeira sobre Arte Sacra, a segunda intitulada “Povoação que me viu nascer”, a terceira e última foi sobre a família.

Já pintou um pouco de tudo, quadros de pintores famosos, figuras religiosas, paisagens insulares, caras conhecidas de autores de cinema (a carvão), etc… Mas, de facto, o que mais gosta é de eternizar as profissões tradicionais e os espaços emblemáticos do nosso concelho.

Luís Dinis participou no programa da RTP – Açores, “Um artista” da autoria do jornalista Emanuel Carreiro, que deu a conhecer aos Açorianos o mundo dos nossos artistas – um mundo muito seu, muito especial, feito mais de sonhos do que de realidades e por isso mesmo geralmente hostil a irgerências estranhas. No entanto através desta série de reportagens essa gente desconhecida da maior parte do povo Açoriano e até uns dos ouros, deixou o anonimato a fim de que a região pudesse saber com quem podiam contar no campo das artes plásticas.

O certo é que este simples homem sem que desse por isso aos poucos foi ficando conhecido, aliás, muito conhecido, e, hoje, muitos dos seus quadros estão espalhados por todo o mundo nomeadamente, no Canadá, Estados Unidos da América, Bermudas, Brasil, e vários países da Europa.

A verdade é que a história deste nosso irmão Povoacense é vasta, conhecida de uma geração, mas desconhecida de outra que agora nasce. Desta forma e como nos falta algum talento para descrever a sua personalidade, vamos aqui reproduzir o depoimento do professor Mota Vieira publicada na edição do “Açoriano Oriental” de 28/05/1986.

“ficou definido como um vegetalista muito hábil, perfeitíssimo na interpretação da forma e colorido das flores dos nossos jardins, é também surpreendente a maneira como representa arvoredos e os jogos de luz e sombra dos frondosos parques micaelenses. Pessoalmente um homem despretensioso, acessível, pronto a aceitar qualquer ocupação ou tarefa, mesmo fora do âmbito da arte que cultiva, o que explica as várias profissões que tem exercido, sempre a contento dos padrões e do público.

No exemplar Externato da Vila da Povoação, completou o trabalho proficiente dos professores, porquanto não era um empregado vulgar mas, sim um amigo dos estudantes, pronto a entendê-los, a perdoá-los a orientá-los. Muitos foram, os que foram das aulas oficiais de desenho e trabalhos manuais, aproveitaram das pacientes lições de Luís Dinis, sempre humano a encorajar os menos talentosos e a aumentar o apelo vocacional daqueles que nasceram dotados para o desenho e para as artes plásticas.

É um micaelense típico que se apaga no meio da multidão e não reclama por si coisa nenhuma. Todavia não passa despercebido aos que amam os nossos vales, e sobretudo, desejam ver o povo simples cada vez mais valorizado. Micaelense de gema este que mais uma vez é referido pela nossa Comunicação Social”.

Jerónimo Cabral em 09/10/1975 na brochura de apresentação da exposição de pintura de mestre Luís na sala de exposições temporárias do “Museu Carlos Machado” escreve o seguinte: “Luís Diniz é o que se pode chamar o artista do povo que, vítima de estruturas sociais elitistas, nunca teve oportunidade de aperfeiçoar os seus dotes artísticos.
Nascido num ambiente pobre, cedo teve a necessidade de se lançar no trabalho árduo para sobreviver, enquanto nas horas tiradas ao seu descanso legítimo se dedicou à sua paixão preferida, a pintura.

É um artista da nossa terra, filho do povo, autodidacta nato, que merece ser incentivado com a nossa presença e com o nosso interesse pelos seus quadros.”

Bem caros leitores, muito mais haveria aqui a despontar sobre a vida deste nosso conterrâneo, desta feita ficamo-nos por aqui.

Agradecemos ao mestre Luís Dinis Pacheco a disponibilidade e abertura demonstrada connosco nas visitas à sua casa. Constatamos que o seu espólio é vasto e muito valioso, quer em quadros de pintura quer em livros quer em revistas, jornais e cópias de documentos sobre a nossa Povoação. O mestre Luís Dinis além de ser um pintor auto-didacta é uma autêntica biblioteca viva. Desejamos-lhe muita saúde e que nos premeie com muitos mais anos na sua simpática e agradável companhia. Bem haja!

Pedro Damião Ponte

1 comentário:

  1. Luiz Diniz ... meu vizinho meu amigo . Sinto um tremendo orgulho ser de sua geracao .LUIZ ... SEM estudos literarios foi e sempre sera o mestre luiz diniz . Sinto orgulho de em minha casa ostentar algumas de suas pinturas sempre que as miro me transportam ao meu chao sagrado . Luiz tu es um simbolo para a tua e minha terra .Povoacao um pedacito do Ceu Que Deus te proteja e te conserve por muitos mais anos .Bem aja amigo

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