As ilhas
açorianas são dotadas de condições de clima e de solos favoráveis ao
crescimento e desenvolvimento de culturas capazes de satisfazer necessidades
essenciais de subsistência alimentar.
A historicidade do percurso social e económico
testemunha a potencialidade agrícola e a riqueza advindas da exploração da
terra. A ilha de São Miguel dada a sua exuberante e
permanente cobertura de vegetação verdejante é conhecida por “Ilha Verde”.
Localizada na parte oriental da ilha a bacia da Povoação, em virtude das
características orográficas e qualidade dos solos, desenvolveu grande produção
agrícola e cerealífera, destacando-se a cultura do milho em abundância e
qualidade que permitia a exportação em quantidade para outros lugares suprindo
necessidades locais, de tal modo que a Povoação foi batizada de “Celeiro da
Ilha”.
Com o advento do pós guerra, as economias
mundializam-se e o valor das trocas de produtos e mercadorias entre espaços
deixa de reflectir o factor distância devido ao desenvolvimento tecnológico que
reduziu exponencialmente o custo dos transportes. É a produção em massa e o
comércio à escala global a ditar as regras do jogo consubstanciadas num sistema
económico liberal à mercê das leis do mercado, negligenciando e abafando
iniciativas e identidades locais. A promoção e o apelo ao consumismo e o fácil
acesso a produtos agrícolas importados a preços baixos desmobilizaram energias
motrizes de boa e diversificada utilização dos solos com efeitos perversos na diversidade
da nossa economia e equilíbrio ambiental.
A contextualização económica e financeira actual do país reflete-se em boa oportunidade de repensar os proveitos e ganhos da exploração e cultivo da terra na produção de alimentos para auto consumo de muitas pessoas e famílias que a aproximação ao espaço rural permite.
O campo está ao nosso alcance. Há muito espaço disponível com interesse de exploração e aproveitamento onde se pode criar uma horta. O amanhar a terra, o semear, o cultivar, o apanhar e recolher, a possibilidade de acompanhar o nascimento e o crescimento das sementeiras e plantações é algo que os açorianos podem desfrutar em seu proveito.
Quantos quintais e parcelas de terrenos, outrora trabalhados, onde se formaram maravilhosas e profícuas hortas estão abandonados. O solo continua potencialmente fértil. Esta riqueza perdida pode e deve ser recuperada visando a nossa autosuficiência. Os ganhos que podem ser gerados na sua exploração são muitos, nomeadamente na produção de produtos hortícolas, leguminosas, frutas, ervas aromáticas e outras variedades de culturas, repercutindo-se na valorização e complementaridade da economia familiar, na revitalização de energias pessoais que combatem o stress da pressão do quotidiano da vida moderna e a elevação do valor da terra no suprimento alimentar.
“Quem produz e consome sabe o que come” é uma máxima que sai mais reforçada na presente conjuntura e está enquadrada ao uso devido da terra. Precisamos de nos virar mais para a terra e de retirar melhor partido da riqueza que o solo nos oferece.
Autoproduzir produtos frescos e naturais é vantagem para uma dieta saudável e mais valia para a economia doméstica. Ainda como vantagem também importante é a satisfação e o prazer de sentir a proximidade e a afectividade ao produto que consumimos, fruto da terra e da nossa intervenção direta.
O presente contexto social e económico exige reflexão a cada actor social de equacionar os melhores instrumentos e meios a utilizar para rentabilizar o seu tempo em tarefas que proporcionam bons e sãos proveitos e qualidade de vida e que possam contribuir para uma sociedade mais sadia e equilibrada.
Trabalhar a terra é poder juntar o útil ao agradável. É também poder dar um sentido mais útil e satisfatório ao lazer. A nossa sustentação económica está indissociada do uso e aproveitamento da terra e das potencialidades naturais. Cria e trabalha a tua horta que verás…!
João Cordeiro
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