quarta-feira, 12 de junho de 2013

CRIMES POLÍTICOS NO CONCELHO DA POVOAÇÃO

Crimes políticos – OSVALDO CABRAL, in Correio dos Açores, edição de hoje.

«Nas Furnas, desde sempre conhecidas como a maior hidrópole do mundo, está-se a cometer um dos maiores crimes políticos da nossa história contemporânea. Conhecido pelas suas mais de 70 nascentes de água, conferindo-lhe o título de capital do termalismo português, o Vale das Furnas tinha motivos para potenciar a sua riqueza ao nível da internacionalização.

A política deu cabo de tudo. Ao atribuir a exploração das termas à ASTA Atlântida, uma parceria entre os Grupos Martins Mota e Paim, sem qualquer experiência no sector, o governo dos Açores matou, à nascença, esta mina de ouro natural.

A requalificação das termas, com a construção do Furnas SPA Hotel, arrastou-se durante sete anos e há mais de três que está parada e em ruínas. Mais grave: é possível que haja alguma nascente de água medicinal que já se tenha perdido. É o mesmo que dar cabo de um valioso poço de petróleo.

Tem razão o Presidente da Junta de Freguesia das Furnas quando se queixa de que, “além de se ter mexido com o património, ele funcionava, curava doenças e dava emprego, mexendo-se com a economia de uma localidade; (…) Deram cabo das águas e, se isto é verdade, devia alguém responder criminalmente”.

Os furnenses podem esperar sentados. Crimes políticos nunca são julgados, porque os amigos, o compadrio partidário, a oligarquia, são sempre protegidos.

A mesma empresa, entretanto falida, recebeu mais de 10 milhões de euros de dinheiros públicos para construir, também, o famoso Casino da Calheta. Nós, contribuintes, ficamos sem o dinheiro, em troca de dois mamarrachos. O das Furnas é mais grave, porque se destruiu todo um património que colocava a freguesia num dos maiores emblemas do termalismo mundial. Foi com base nesta potencialidade que, nos anos 30, se construiu o Hotel Terra Nostra, agora remodelado, num investimento magnífico, sem megalomanias e novo-riquismos.

O ruinoso Hotel SPA das Furnas ainda não estava na fase de conclusão e já tinham acrescentado ao projecto mais 11 quartos aos 44 inicialmente previstos, acrescentaram mais umas centenas de metros quadrados à área do SPA, outra sala de refeições, esplanada, transformando o investimento de 6 milhões para... 10 milhões! “Quando os políticos metem mão nas Furnas, sai asneira”, disse-me no fim de semana um furnense lá residente. É o caso, também, da Presidência da República, ao tempo de Mário Soares. O Estado resolveu comprar a bonita casa da Grená, na margem da lagoa das Furnas, para local de férias e repouso de suas excelências.

 Conclusão: mais um monte de ruínas, daquela que foi construída por um cavalheiro inglês em finais do século XIX e que pertenceu à família Mendonça Dias. Entretanto investiram-se mais uns milhões em Observatórios Microbianos, Exposições Virtuais e Permanentes, Observatórios de Investigação nas margens da lagoa, sem que se transmita ao público os resultados dessas investigações científicas, o que fazem, para que servem, já que o problema da eutrofização parece continuar na mesma, largos anos depois de tantas promessas e de tantos milhões afundados.

Eu já estou como o arquitecto Soares de Sousa, questionando para que servem aquelas “megalíticas construções que eram dispensáveis e nada acrescentam à harmonia natural” nas margens da lagoa. Para colocar casinhas de madeira nas árvores para a nidificação de pássaros e morcegos não era necessário tamanho investimento. Mas nesta terra tudo é possível. Até um dos Grupos que deixou falir as Termas das Furnas, teve como prémio... as Termas da Ferraria.


Branco mais branco não há.» Pico da Pedra, Junho de 2013 Porque hoje é quarta

Fotos: Google imagens

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