segunda-feira, 25 de março de 2013

SECRETÁRIO DE ESTADO DA CULTURA DO RIO GRANDE DO SUL ENCANTADO COM A BELEZA DA POVOAÇÃO


Luiz António de Assis Brasil, o atual Secretário de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, do Brasil, esteve de férias na Povoação, durante o mês de fevereiro.

Luiz António de Assis Brasil é também professor universitário e escritor, com 19 livros publicados, alguns deles foram já adaptados para o cinema, tendo igualmente recebido vários prémios literários pela obra publicada.

Da sua passagem pela Povoação publicou, recentemente, no Jornal Brasileiro “Zero Hora”, cuja tiragem ascende quase a 200 mil exemplares diários, uma crónica sobre o que o impressionou e que abaixo transcrevemos:

A IGREJA DA POVOAÇÃO

Há um lugar de sonho, e nele, uma igreja. Fica na ilha de São Miguel, nos Açores. É uma vila situada na costa Sul, a mais propícia aos bons ventos. O lugar chama-se Povoação, e isso por um fato: ali se começou a povoar a ilha, em meados do século 15. Situada numa calha entre montanhas que se despeja no Atlântico Norte, a Povoação sofre enxurradas cíclicas, que podem levar a destruições e mortes. Nem por isso seus habitantes se revoltam ou se mudam dali. Sabem que as catástrofes naturais estão em toda a parte. As suas, até que são pequenas, e talvez seja o preço a pagar por viverem nesse éden terrestre.

Ali, o tempo não corre no mesmo ritmo nosso. É um tempo histórico e mítico. Mas não se pense em estagnação, pois seus moradores desfrutam plenamente a nossa era. O que os distingue é essa sensação peculiar de pertencimento a um espaço em que as épocas se cruzam e convivem.

 O povoacence, quando olha para o mar, tem a montanha às suas costas. Sabe que seu ambiente existencial é exíguo, mas sua alma alarga-se ao mundo. Todos têm pessoas queridas nas Américas, na África, na Austrália, no Oriente, e por isso sua saudade é grande; mas sua alma é maior do que as distâncias.

 Na Povoação há uma bela Matriz, ampla, soberana, mas também uma pequena igreja à beira-mar, dedicada a Nossa Senhora do Rosário. Tal como todas nesse esplêndido arquipélago vulcânico, sua torre sineira, suas colunas, coruchéus, ombreiras, vergas e frontões decoram-se por cantaria de basalto negro. Aproximemo-nos da sua fachada Sul. Apertemos os olhos. Lemos, num medalhão, o ano: MD, o mesmo em que Cabral chegou às terras brasileiras. À distância, essa igreja soube de nossa breve história, das Capitanias Hereditárias, do vice-Reino, do Reino, do primeiro Império, do segundo Império, da República, e assim chegou ao século 21. E a igreja ali, impávida, com o legítimo orgulho de quem se sabe indestrutível. Os moradores da Povoação deixaram-na como nova, e é um gosto sentar-se, na penumbra e na quietude, ouvindo as tantas vozes que ali ressoaram, as prédicas que se escutaram, os réquiens dolorosos, as celebrações festivas dos batizados e casamentos.

 Num lugar de sonho, numa ilha açoriana, uma pequena igreja dá testemunho de nossa humanidade e por isso é ainda mais bela a nossos olhos encantados.

É muito estimulante para os povoacenses ler opiniões como estas, ainda mais quando redigidas por gente tão ilustre.

Fonte: Gabinete de Comunicação e Imagem da Câmara Municipal da Povoação

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