terça-feira, 5 de março de 2013

ANTÓNIO RITA AMARAL UM NOME A RETER NO CONCELHO DA POVOAÇÃO


Depois de algumas pesquisas encontramos uma interessante e sempre atual entrevista conduzida pelo Jornal Ribeira Quente no ano de 2006 ao ribeiraquentense, António Rita Amaral, um grande homem do mar e de terra, pois também conduziu os destinos da sua freguesia como presidente da Junta local com enorme saber e responsabilidade, mas, melhor mesmo, é ler a entrevista na íntegra.
     
António Rita Amaral é filho de António Junípero Amaral e de Maria da Costa Rita. O apelido “Sacadura” já vinha do seu pai, que quando era criança tinha um pequeno barco com o qual brincava na ribeira e pelo mesmo ser veloz (à semelhança de um barco de Vila Franca que era muito veloz e se chamava “Sacadura”) deram-lhe o apelido de “Sacadura”. Tem 70 anos, pois nasceu a 28 de Outubro de 1942 e cresceu na casa dos pais, na Rua do Garajau, denominação que tinha na altura, que ficava entre o prédio do Saraiva e a atual casa do Sr. José Franco.

Entre os 12 e os 13 anos, enveredou pela profissão da família, a de pescador, entrando na Companha do pai no Novo Sacadura. Aos 14 anos foi tirar a Cédula Marítima a Vila Franca do Campo. Era obrigatório ter o exame da quarta classe e “dar uns mergulhos” para que confirmassem que sabia nadar. Em 1968 tirou a carta de Contra-Mestre em Ponta Delgada e, vinte anos mais tarde, em 1988, conclui na Escola Profissional de Pesca de Lisboa o curso de Mestre Costeiro Pescador.

Jornal Ribeira Quente – Como era a vida de um pescador quando começou no mar?

António Rita Amaral – Era muito diferente de agora. Os barcos eram a remos e também à vela, quando o vento ajudava. Para irmos para o Nordeste saíamos à meia-noite e chegávamos lá pelas seis/sete da manhã.

Ao nível da pesca não havia tantas restrições e não se falava em quotas, tínhamos tabelas a cumprir. No entanto, apesar de haver muito peixe, passávamos meses sem poder ir ao mar, pois, como não havia motores, não podíamos sair com o mar mais picado.

R. Q. – Com que idade foi dono do primeiro barco?

António Rita Amaral – Por volta de 1970/71, com 28 anos, tive o primeiro barco, o Carlos António, em sociedade com o meu pai. O barco já tinha motor. O nome veio de um afilhado de meu pai, que também é meu afilhado agora. Este barco foi vendido para Rabo de Peixe. Depois deste, em 1985, comprei um barco na Lagoa, que intitulei de Novo Sacadura, em homenagem ao primeiro barco onde andei. A lotação da embarcação constava de 16 a 17 tripulantes.

R. Q. – Fala-se do tocar do Búzio. Sabia tocar o Búzio? O que recorda a este respeito?

 António Rita Amaral – Eu sabia tocar, mas quem tocava em cada barco era quem tinha mais jeito. No primeiro Novo Sacadura lembro-me que quem tocava era o João Bolinha, já falecido, e tocava muito bem. Pelo tocar do Búzio os vendilhões e a população, já sabiam de quem era o barco que se aproximava. O som de cada um era diferente e pela demora do toque sabia-se se o barco vinha mais carregado de peixe ou não.

Também se tocava o Búzio para chamar a população para ajudar a varar o barco se o mar estava mais bravo.

R. Q. – Conte-nos um pouco do seu percurso pelas traineiras?

António Rita Amaral – A primeira traineira em que fui Mestre, foi a Garça, há 30 anos atrás. Depois desta seguiu-se Ribeira Quente, Mariante, Pico Ruivo, S. Pedro II, e, por fim, a Pérola dos Açores. Nelas praticava-se a Pesca do Atum. De verão andava nas traineiras e, de Inverno, andava no Novo Sacadura.

R. Q. – Mas a Pérola dos Açores, foi a primeira de que foi dono. Quando a adquiriu e como?

António Rita Amaral - No dia 5 de Maio de 1990 a Pérola dos Açores fez-se ao mar pela primeira vez, saindo do cais de Santo Amaro, no Pico. Escolhi o nome de entre outros dois que haviam surgido, mas que não me recordo agora.

Para adquiri-la, surgiu uma candidatura para traineiras daquele género, à qual concorri, depois fui chamado para entrevistas e acabei por ser um dos selecionados. Neste momento esta embarcação já foi abatida e agora sou proprietário de um outro Atuneiro com o nome de Pepe Cumbrera.

R. Q. – Para finalizar as questões sobre a sua vida marítima, gostaríamos de saber o episódio que mais o marcou positiva e negativamente como pescador?

António Rita Amaral – O meu melhor momento como pescador foi quando ganhei o concurso para ficar com a Pérola dos Açores, era um sonho que tinha há muitos anos e que felizmente se concretizou.

O pior momento foi a 29 de Novembro de 2004 quando o barco do Pedro virou e passámos por aquela grande agonia; vimos a morte à nossa frente e perdemos mesmo um dos membros da tripulação, o João Bolinha. Foi um episódio do qual ainda não recuperei totalmente.

R. Q. – Já era empresário na área das pescas mas a sua atividade empresarial não se ficou por aqui. Associou-se ao projeto da Seawatch.

António Rita Amaral – Fiz sociedade com o José Franco, e investimos no projeto de turismo que consistia no Whale Watching em 2001.

R. Q. – E nessa altura, achou que teria o sucesso que é visível por todos?

António Rita Amaral – Claro que quando investimos em alguma coisa é sempre na esperança de dar certo, e estávamos confiantes, mas não sabíamos se as pessoas iriam aderir.

R. Q. – E o restaurante surgiu posteriormente, porquê?

António Rita Amaral – O restaurante Garajau surgiu para ser um suplemento ao barco no meio das viagens marítimas. No entanto, tem tido muita adesão, e é já uma das referências para muita gente de fora da freguesia. Temos também o Jeep Safari que tem muito sucesso.

R. Q. – Passemos a outra faceta da sua vida, a de político. Por que decidiu concorrer pela primeira vez à Junta de Freguesia de Ribeira Quente?

António Rita Amaral – Concorri porque algumas pessoas achavam que eu era a pessoa certa e faziam força para que concorresse. Foi em 1993 e nessa altura perdi por um ou dois votos. Não concorri muito de minha vontade, pois a minha vida na altura não dava para estar frequentemente em terra ao serviço da população. Não assumi o compromisso com convicção perante as pessoas e por isso perdi.

A meio do mandato do Partido Social Democrata entrei para secretário da Junta de Freguesia.

R. Q. – Tornou a concorrer em 1997 e ganhou. Qual a diferença entre esta candidatura e a anterior?

António Rita Amaral – Da segunda vez comprometi-me com as pessoas que ia deixar o mar. Disponibilizei mais tempo e as pessoas reconheceram isso. Ganhei por mais de 100 votos. A candidatura de 2001 era inevitável para dar continuidade ao trabalho que vínhamos a desenvolver e concluir os projetos que tínhamos em mente.

R. Q. - Que freguesia encontrou na altura?

António Rita Amaral – Uma freguesia pós-catástrofe, muito carenciada. A Ribeira Quente evoluiu muito após a catástrofe e à custa desta. Costumo dizer que só perdeu quem morreu. A freguesia nasceu de novo, infelizmente, às custas daquela tragédia.

R. Q. – Que balanço faz destes últimos oito anos?

António Rita Amaral – É um balanço bastante positivo. A freguesia está mais dinâmica. O porto foi reconstruído de raiz e houve a remodelação da frota pesqueira.

A Junta fez o seu trabalho do que destaco: a ampliação do cemitério; o polidesportivo, o apoio aos jovens, idosos, pescadores, entidades culturais e desportivas; festas da freguesia, à Igreja de S. Paulo; às escolas; empresas, e todas as pessoas que solicitaram o nosso apoio. Fizemos o possível com os meios que temos.

Conseguimos também uma caixa de Multibanco e reforçar a rede TMN. É isto que me recordo agora de repente.

R. Q. – Valeu a pena assumir o cargo de Presidente da Junta de Freguesia?

António Rita Amaral – Sim. Nos oito anos de mandato respeitaram-me sempre; as pessoas foram sempre corretas comigo. Fiz os possíveis para que a Ribeira Quente fosse outra, fez-se alguma coisa, mas ainda há mais a fazer.

R. Q. - Sente-se com a consciência de dever cumprido?

António Rita Amaral – Sim. Há sempre coisas a fazer, mas dentro do que me foi possível fiz.

R. Q. – Nunca se arrependeu de ter assumido a candidatura?

António Rita Amaral – Não. Como toda a gente, nalguns episódios do dia-a-dia, quando as coisas não corriam da melhor maneira, e da maneira que deveriam ser, sentia-me frustrado, mas não me arrependo.

R. Q. – Por que não se recandidatou?

António Rita Amaral – Após o incidente no mar a minha saúde não sendo a mesma achei que já não tinha a idade para me recandidatar, que devia haver uma renovação na imagem do presidente, apesar da restante equipa da junta ser bastante jovem.

 R. Q. – Acha que a Junta de Freguesia está bem entregue?

António Rita Amaral – Sou suspeito para responder a esta pergunta, como é óbvio, mas acho que está muito bem entregue, com pessoal novo e dinâmico. A freguesia estava bem, mas não fica a perder.

O jornal Ribeira Quente agradece-lhe a atenção que nos dispensou, com votos de um ano de 2006 com muita felicidade e saúde.


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