quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

FALECEU O MESTRE DE ROMEIROS DO CANADÁ ANTÓNIO TABICO


REPIQUES DA SAUDADE – Portuguese Times – Ferreira Moreno

Lembranças do Tabico

António Freitas da Câmara, mais conhecido simplesmente por Tabico, alcunha que de há muito lhe corre na família, por largos anos representou p'ra mim o nome de um dos nossos populares repentistas ou improvisadores, emprestando grande animação às tradicionais cantigas ao desafio. Mais tarde, já na Califorlândia, descobri ser o Tabico igualmente um talentoso artista cómico, além de cantor-intérprete do nosso folclore. Isto ficou plenamente confirmado diversas vezes, quando o Tabico nos visitou nuns espectáculos da "Caravana Açores".

            Natural de Santo António Além-Capelas, ilha de S. Miguel, onde nasceu em
1941, o Tabico reside no Canadá desde 1970, onde há poucos anos atrás fui
obsequiado com um almoço típico no restaurante da sua gerência em Toronto.
Foi a esse tempo que, mais pormenorizadamente, me foi revelada outra faceta
na vida do Tabico, ou seja, ele passou a representar p'ra mim um autêntico
protótipo do romeiro micalense, p'ra quem as anuais romarias quaresmais
constituem o legítimo amor da sua alma e coração.

O Tabico contava apenas oito anos d¹idade quando participou na sua primeira
romaria, e aos 16 anos já se encontrava à frente da mesma como "Mestre".
Embora emigrado continuou a deslocar-se a S. Miguel a fim de partilhar nas
caminhadas da Romaria de Santo António Além-Capelas.

Indivíduo de ideias e muita fé, ao Tabico se deve a organização dum Rancho
de Romeiros Emigrantes que agora, desde a Quaresma de 1991, percorre
anualmente a ilha de S. Miguel, numa romaria de penitência e oração durante
uma semana.

Presentemente, desde o ano 2001, "Mestre" Tabico dirige uma romaria
quaresmal na ilha Graciosa, incluindo romeiros locais e dezenas de
emigrantes. Embora de curta duração, devido à exiguidade da ilha, esta
romaria obedece aos moldes tradicionais. Disto são testemunhas as
extraordinárias imagens colhidas num par de "video-cassetes", que o César
Pedro me ofereceu, e que tem por título "Os Romeiros das Américacs -
Graciosa & São Miguel".

César Pedro, continental, é casado com Nellie, açoriana; ambos são os
realizadores do popular programa televisivo "Gente da nossa" de Toronto.
Numa demonstração a todos os títulos deveras louvável em propagar cada vez
mais a tradição secular destas romarias, pois que remonta ao século VXI, o
António Tabico recentemente tomou a iniciativa em publicar um livro
altamente informativo e profusamente ilustrado, a que deu o título "Romeiros
- A Fé de um Povo". Além das narrativas, quer históricas quer fotográficas,
todas eles revestidas de uma inestimável preciosidade merecem particular
referência as numerosas quadras da autoria do Tabico, preenchendo o livro
qual contas do rosário, que o romeiro canta e reza na sua devoção à Virgem
Nossa Senhora.

Pela estrada caminhando,
Ó Mãe de Deus infinita,
Em altas vozes cantando:
Avé Maria bendita.

Como é linda a romaria,
Como é lindo ser romeiro,
Pedir à Virgem Maria
P¹la paz no mundo inteiro.

Louvando a Virgem Maria
Em penitência e oração;
Se não fores na romaria
Não critiques os que vão.

Avé Maria que cantas,
Romeiro por onde passas,
Enche de perfume as plantas
Das ruas, grotas e praças..

Em troca do grande amor
A Maria Imaculada,
Vamos pedir ao Senhor
Uma santa caminhada.

Romeiro, alegre caminha,
Continua a viajar
Porque a Virgem Mãe Raínha
Não te vai abandonar.

A romaria é promessa
Que se paga alegremente
E a juventude começa
A senti-la igualmente.

Todos juntos caminhando,
Desde o mais velho ao mais novo,
Na romaria mostrando
Como é a fé de um povo.

A ilha de S. Miguel
Tem a mais bonita cor,
Que foi pintada a pincel
P¹la mão do Criador.

Na ilha que nós amamos,
Nem contamos as passadas,
Que todos os anos damos,
Pelas grotas e canadas.

Tanta chuva, vento e frio,
Relâmpagos e trovoada,
É mais este desafio
P¹rá tua caminhada.

Caminha, irmão romeiro
Vence mais esta vitória,
P¹ra que sejas herdeiro,
Do reino da eterna glória.

Acolhei os emigrantes
Senhora, em vossa morada,
Que se encontram radiantes
Nesta santa caminhada.

Caminham na neblina,
Misturados com canseira;
A providência divina
É a maior companheira.

Os pobres versos que escrevo
São verdadeiros, não minto;
É da forma que me atrevo
A dizer tudo o que sinto.

Se pudesse melhor faria,
Mas melhor não sei fazer,
Porque duma romaria
Há muita coisa a dizer.



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