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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

AÇORIANO

Lavras a terra aos sulcos, que parecem ondas do mar!

Semeias a Batata, o milho, e o feijão, lanças à terra semente de trigo que aos poucos vai germinando e um dia serão loiras espigas, a ondular ao vento em oscilações como o mar irrequieto. Depois de todas estas canseiras ficas inativo e ficas a olhar o mar imenso, e até juto de ti chega o cheiro da maresia, e resoluto vais até à beira mar e arreias o teu barco “o aventureiro”, e fascinado partes com um sonho acalentado, vais mar fora e ficas a navegar entre céu e mar. Ao longe a terra é um minúsculo amontoado; e lanças ao mar o isco e teus apetrechos de pesca, e apanhas um peixe, e depois outro, e aos poucos vais enchendo teu pequeno barco… Passando vão horas, é preciso regressar a casa e rema que rema. A noite está serena, o céu está semeado de estrelas e remas e tornas a remar que a família te ajuda a varar o barco. Depois lá vem aquele abraço. Passada a euforia, vem uma noite repousante, e passados alguns dias voltas a ser camponês.

É tempo da apanha da batata, vem depois o labor da ceifa do trigo que levas para a eira. Depois da debulha será pão que repartirás com tua esposa e filhos. Recolhes o feijão e o milho, vêm depois as vindimas, a uva perfumada que vai para o lagar, é esmagada e se transforma no vinho precioso que alegra a vida usando-o sem excesso. Vem depois dias mais tranquilos e ficas com a nostalgia de voltar ao mar e como um “íman” sentes-te atraído, e vais à faina da pesca. O mar está ligeiramente revolto e dessossegado e a Maria pete-te que não vás ao mar, mas tu persistes, sentes em ti uma atração irresistível, Maria dá-te um abraço e coloca-te ao pescoço um cordão com uma medalha do Senhor Santo Cristo para te proteger. Regressando a casa, Maria ajoelha-se junto a um oratório do Senhor, e numa súplica de prece fervorosa ao Senhor Santo Cristo que proteja o seu António.

Afoito vai indo o António mar fora, o dia passa rápido com o sol a jogar às escondidas, ora aparecendo e desaparecendo entre nuvens espessas e sombrias, o barco cada vez baloiçava mais, na ondulação constante do mar revolto. Vem a misteriosa noite coberta com um enorme xaile negro, carrancuda e tenebrosa com aspeto fan- tasmagórico, de quando em quando o vento ponha-se a uivar, as nuvens atropelam-se velozes umas às outras; começou a relampejar veias de fogo “zagaiando”, iluminam por fração de segundos as densas trevas da noite. Ribombam os trovões logo seguidos de fortes aguaceiros… O António estava apavorado, tremia mas remava… remava… e sentia-se exausto; o barco ia ao vai-e-vem das ondas, umas vezes na crista outras vezes baixava de repente como se fosse afundar, e dizia o António: Senhor tu sabes que sou pecador!... Mas sei Senhor que és misericordioso, pela inocência dos meus filhos salvai-me…!

Enquanto isto dizia beijava a medalha do Senhor Santos Cristo, e como por milagre o vento acalmou um pouco… E o António horas depois chegou ao porto;… Maria ao ver o marido ajoelhou-se no velho cais, agradecendo ao Senhor Santo Cristo, a graça do marido por estar vivo. Depois da varagem o António abraçou Maria e os filhos, e com lágrimas a correr-lhe na face curtida de agrestes nortes, dizia: foi um milagre do Senhor Santo Cristo!

Foi um milagre! Eu que sou tão pecador… Tão pecador.

Senhor meu Jesus, perdão!

Povoação, 16 de setembro de 2016.

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