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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

VINDIMAS DE SONHOS

Palavras leva-as o vento, mas dentro em nós fica o eco, o pensamento, de quando em vês recordamos algo bom ou menos bom que apreciamos.

Amadurecido p’la vida faço vindima de meus sonhos e esta quadra tão desejada, tão querida traz-me o doce amargo que irrompe da penumbra da saudade; é o passado que persiste em estar presente.

Quanta simplicidade a poetizar a quadra natalícia que tanto nos fala ao coração. Vejo-me criança com os meus queridos pais e irmãos que me ensinaram a viver outros natais – sou um menino perdido no tempo, que sonha e tem esperança que a paz que Jesus nos oferece anda por aí algures no coração do homem de boa vontade, o homem e a mulher que Deus ama.

Não deixemos extinguir a esperança, é luz em nossa vida, é estrela a guiar-nos a caminho de Belém como os Reis Magos à procura do Menino do Salvador – na Belém da nossa Freguesia, Vila ou Cidade encontremos o Menino, a Salvação ao abrirmos o coração ao amor.

Na velha casa onde vivo, tear de ternura, abrigo da minha solidão e saudade, repassa imagens d’outros Natais, plenos de sonho e amor no seio familiar, e não só. Recordo com um misto de alegria e tristeza a infância longínqua impregnada do amor de pessoas queridas com olhos embaciados; vejo rostos luminosos ou enrugados, mas sempre belos em porta-retratos colocados sobre móveis e paredes, nestas penduravam minha avó e minha mãe Ramos naturais dispersos de cedro, funcho, laranjeira e tangerina com frutos deliciosos e aromatizados a dar um ar de festa – Do pinhal coração trazia meu pai o verde pinho que minha mãe com ternura espalhava e enfeitava o térreo chão. Estou vendo o Menino Jesus com seu sorriso benévolo em minúsculo trono, protegido pela redoma na velha cómoda enfeitada com trigo, ervilhaca e camélias como era moda. Nos dias de festa almoço e ceia era melhorada uma boa sopa, cozido de carne, chouriço, morcela, com batata em abundância, doce e inglesa, e toucinho e outras iguarias. Comíamos como “o abade”, todos os derivados oriundos da terra e do porco, que dias antes fora abatido na festa dos porcos, se assim não acontecia, matava a mãe uma ou duas galinhas velhas, não poedeiras, os ovos eram necessários para a alimentação e para troca por troca de produtos na velha mercearia.

É tradicional o peditório para o Menino Jesus na Lomba do Loução e Alcaide, nesta última baterem à porta do Senhor X, que abrindo-a sorridente disse – Ó mulher trás a galinha, que é esgravatadeira, que só faz mal ao quintal da vizinha.

Pressurosa e presenteira lá trouxe a mulher a galinha que a caraquejar um ovo pôs. Entre gracejos e sorrisos, de mão para mão, na Lomba, andou a passear a galinha que ao leilão foi parar e bom dinheiro “ganhou”, que reverteu para a igreja.

Na noite de Natal antes de irmos para a missa do galo ceamos na mesa da cozinha e partilhamos o alimento com a vizinha num ambiente quente p’lo amor e lareira acesa, onde não colocava o sapatinho por não os possuir. Naquela noite antes de irmos à missa do galo contou minha avó a história do nascimento de Jesus.

José e Maria saíram de Nazaré a fim de recensear-se em Belém. Nossa Senhora por estar grávida ia montada num burrinho e São José a pé. Ao chegarem à hospedaria não havia lugar para eles, bateu José de porta em porta a pedir abrigo, abrindo porta, janela ou postigo amargo, não lhes davam. Encontraram eles uma gruta abrigo de animais e conformados ali se acolheram sendo a gruta escura e frias, foi São José à cidade pedir um tição de lume para fazer uma fogueira. Ao chegar José já Jesus tinha nascido. Enrolou-o Maria em panos deitando-o numa manjedoura, o burrinho e uma vaca, que ali estava, com o bafo aqueceram o menino que sorria comos bracinhos abertos.

Os pastores que andavam pelos arredores foram surpreendidos por uma grande luz e ficaram deslumbrados e os anjos cantaram Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade. Foram os pastores adorar o Menino e depois deram a boa nova a toda a gente que o menino Jesus foram ver; dias depois vieram os reis magos guiados por uma estrela e ofereceram ao Menino incenso, oiro e mirra.

Começou a minha avó a bocejar e logo depois a dormitar e o resto da história não contou e nós fomos à missa do galo onde vimos o presépio e cantando beijei o Menino, e uma palhinha doirada da manjedoura do menino trouxe para casa – um pouco depois deitei-me, sonhei e vi o arco-íris com Jesus, José e Nossa Senhora. Pela manhã ao acordar a meu lado encontrei uma pequenina cesta feita de palha cheia de figos passados e dei alguns à minha avó; ela esta quadra me ensinou.

A virgem Maria foi fecundada
P’la divina graça
Entrou e saiu nela
Como e sol p’la vidraça

Um santo Natal com Jesus no Coração.

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